No vácuo de mim eu me despenco
Existe sempre alguma coisa ausente.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
De uns dias pra cá venho pensado mais na desistência do que o normal. Não consigo ver meu futuro, meu presente. Meu travamento anda se estendendo muito, e não sei se consigo reparar o estrago que fiz e ainda faço. Acostumei, me acomodei, perdi o total gosto de tudo, e o pior é imaginar que isso seria apenas uma drama ou confusão que eu mesma crio pra mim. Seria um baque, entendem? Um completo tiro no peito. Apesar de ser esperado. E eu sei também que ainda vou quebrar a cara o bastante pra querer consertar estes erros. E digo talvez pra ninguém, que é o dia que eu mais espero que chegue.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Rosto com dois perfis
Renuncio ás palavras
e ás explicações.
ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis, são mortais.
Não quero perder o momento
belo. Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.
Então me corto ao meio e me solto
de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.
Duplo coração:
a que se contempla e a que nunca
se entende,
a que viaja sem saber se chega
- mas não desiste jamais.
e ás explicações.
ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis, são mortais.
Não quero perder o momento
belo. Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.
Então me corto ao meio e me solto
de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.
Duplo coração:
a que se contempla e a que nunca
se entende,
a que viaja sem saber se chega
- mas não desiste jamais.
domingo, 17 de outubro de 2010
"...até que eu não aguento mais, porque quando todo mundo começa a me chatear, fico irritada, e depois triste, a parte má do lado de fora e a boa do lado de dentro, e tento achar um modo de me transformar no que gostaria de ser e no que poderia ser se... se não houvesse mais ninguem no mundo."
(O diário de Anne Frank)
(O diário de Anne Frank)
"Quanto tempo demora? - perguntou ele.
- Não sei. Um pouco.
Sohrab deu de ombros e voltou a sorrir, desta vez era um sorriso mais largo.
- Não tem importância. Posso esperar. É que nem maçã ácida.
- Maçã ácida?
- Um dia, quando eu era bem pequenininho mesmo, trepei em uma árvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ácidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu à beça. A mãe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, não teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs."
(O Caçador De Pipas)
- Não sei. Um pouco.
Sohrab deu de ombros e voltou a sorrir, desta vez era um sorriso mais largo.
- Não tem importância. Posso esperar. É que nem maçã ácida.
- Maçã ácida?
- Um dia, quando eu era bem pequenininho mesmo, trepei em uma árvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ácidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu à beça. A mãe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, não teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs."
(O Caçador De Pipas)
sábado, 16 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
"(…) Então eu agradeço, eu tenho medo e espanto e terror e ao mesmo tempo maravilhamento e outras coisas com e sem nome, mas agradeço. Aos deuses dos jardins, aos deuses dos homens, aos deuses do tempo e até aos das ervas daninhas que nos fazem lutar feito tigres feridos fundo no peito, sim, eu agradeço."
Breve Introdução do Ciclo Seco.
Todo mundo conhece ciclo seco, a maioria até já passou por ele. Alguns mesmo vivem desde sempre dentro dele, achando que isso é vida e eternizando o que, por ser ciclo, deveria também ser transitório. É preciso acreditar que passa, embora quando dentro dele seja difícil e quase impossível acreditar não só nisso, mas em qualquer outra coisa. Não que ciclo seco não tenha fé, o que acontece é que não podendo ver o que não é visível, fica limitado ao real.
Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita. Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.
Porque o real do ciclo seco são ações, não pensamentos nem imaginações. Tanto que, visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com «euforia”, quando você faz em excesso o que não devia. Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve ou não, desde escovar os dentes de manhã ou beber um uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos. A propósito, ciclo seco não admite adjetivos — seco é apenas a maneira inexata de chamá-lo para que, dando-lhe um nome, didaticamente se possa falar nele.
E deve-se falar dele? Quero supor entusiástico que sim, mas não tenho certeza se dar nome aos bois terá alguma serventia para o dono dos bois ou sequer para os próprios bois — e essa é uma reflexão típica de ciclo seco. Mas vamos dizer que sim, caso contrário paro de escrever já. E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro — nem a Alice, de Woody Allen, nem Bette Davis em algum filme antigo, nem o Homem Elefante nem um dos irmãos Baldwin, nem Gertrude Stein nem Romário —, embora possa dar uma impressão errada a quem o vê de fora, ávido por adjetivar.
Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema — ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a quê é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?
Nesse sentido, ciclo seco é forte, porque nada vindo de fora o abala, e imutável, porque de dentro nada vem que o modifique.
E nesse sentido também é antinatural, pois tudo se transforma e ele não, simulando o eterno em sua digamos, i-naba-la-bi-li-dade. E sendo assim, com alívio vou quase concluindo, pode se deduzir que.
Não, não se pode deduzir nada. Só que passa, por ser ciclo, e por ser da natureza dos ciclos passar. Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades. Chatíssimo bem sei. Mas ciclo seco é assim mesmo.
Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita. Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.
Porque o real do ciclo seco são ações, não pensamentos nem imaginações. Tanto que, visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com «euforia”, quando você faz em excesso o que não devia. Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve ou não, desde escovar os dentes de manhã ou beber um uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos. A propósito, ciclo seco não admite adjetivos — seco é apenas a maneira inexata de chamá-lo para que, dando-lhe um nome, didaticamente se possa falar nele.
E deve-se falar dele? Quero supor entusiástico que sim, mas não tenho certeza se dar nome aos bois terá alguma serventia para o dono dos bois ou sequer para os próprios bois — e essa é uma reflexão típica de ciclo seco. Mas vamos dizer que sim, caso contrário paro de escrever já. E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro — nem a Alice, de Woody Allen, nem Bette Davis em algum filme antigo, nem o Homem Elefante nem um dos irmãos Baldwin, nem Gertrude Stein nem Romário —, embora possa dar uma impressão errada a quem o vê de fora, ávido por adjetivar.
Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema — ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a quê é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?
Nesse sentido, ciclo seco é forte, porque nada vindo de fora o abala, e imutável, porque de dentro nada vem que o modifique.
E nesse sentido também é antinatural, pois tudo se transforma e ele não, simulando o eterno em sua digamos, i-naba-la-bi-li-dade. E sendo assim, com alívio vou quase concluindo, pode se deduzir que.
Não, não se pode deduzir nada. Só que passa, por ser ciclo, e por ser da natureza dos ciclos passar. Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades. Chatíssimo bem sei. Mas ciclo seco é assim mesmo.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
"Sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?"
Ultimamente até as coisas tolas do dia a dia andam me prendendo. E várias coisas me atormentando. Fui confessar dia desses, obrigado, mas fui; o padre falou mais que eu, e eu só tive a chance de dizer dois estorvos meus. A comida, e a família. Não me sinto preocupado em comer, me sinto incomodado comigo mesmo. Meu corpo. Não minha alimentação e muito menos o meu colesterol e tudo mais. Pra minha idade, ser precoce ás vezes acarreta algumas preocupações para meus pais. Entendo, até. Mas não compreendo tanto minha mãe. Essa semana tivemos sérios atritos, gritamos bastante um com o outro e eu sinto que, deveria ter gritado mais. Me sinto fadigado, preso, sinto TANTA coisa boa e ruim dentro de mim, e sinto tanta vontade de expôr esses meus devaneios matinais, diários, e noturnos. E acho que quando eu me libertar, eu vou ser alguém mais comprenssivo.
Mas para me libertar, não vejo soluções, preciso ferir pessoas. Preciso gritar, chorar, me perder, e me achar de novo. Viajar, ser menos preguiçoso, ver gosto nas coisas de novo. Me diga, o que adianta viver, e não achar sentido em nada? Lamento ver que cheguei num ponto que nem eu mesmo via o caminho. Ando frio; "chorar, choro ás vezes, e é tão frequente". Sinto vontade de trabalhar, estudar, e me dedicar, sair pelo portão da frente de casa e não preocupar em estampar a cara aos outros. Sem dinamismo, sem mistérios, sem caras fechadas e mau-humor. Tento, ligo pra uma amiga da escola que também sente necessidade de se achar, mas sei que não é tão desesperadora quanto á minha, e começo a dizer: "Oi, tudo bem? Olha, eu to te ligando pra dizer que nesse momento eu to chorando por uma coisa que eu não sei, mas essa coisa não tem remédio e ela lateja dentro de mim como um caco de vidro no pé. E dói, dói tanto! Você pode me ajudar? Quero estar feliz sem estar triste, e estar triste estando feliz. Pode ocorrer? Há algum zero oitocentos que me socorra? Igreja, talvez? O que você acha? Não tenho tanta fé. Não posso me colocar dentro de alguma religião que meus olhos latejam. Meu coração grita, minhas mãos querem briga. Meus pés procuram caminhos mas meus olhos não os deixam sair de onde estão. A terra gira gira gira o tempo todo e eu me quero de novo. Mas... Quando foi que eu me tive?". Não, é óbvio que não saiu apenas um "Depois eu te ligo" e mais nada. Não funciona. Não comigo. Não agora. Mas quando? Quando é que tudo acaba ou quando é que eu vou aprender? Talvez nunca. Não com esta forma de viver.
Talvez eu precise de um impulso. Mas não adianta, nada: Mamãe vive me obrigando a comer o que o nutricionista diz, e eu não concordo. Não estou doente nem estou perto de ficar. Eu não consigo olhar pra papai sem ver quinze anos nas costas e de pura incapacidade de perdoar e afundar mágoas. Não consigo. A família almoça, as tias e a avó chegam e todo mundo come. Aparentemente felizes, e vejo que não sabem fingir direito. Não há ninguém feliz e nenhuma família feliz. Muito pelo contrário. Pelo menos comigo, não, não está tudo bem. Não tenho silêncio, não tenho nada além de uma migalha de esperança que me resta, e ela oscila como jamais oscilava. Penso que não sou forte o bastante pra conviver, e que sou dramático demais pra ir em frente, mas não sou e não é assim. Pra mim, esse vazio é excessivo é extenso, e por eu não conseguir explicá-lo, ele se torna mais vazio e mais louco do que parece.
Eu queria sair por aquela porta e horas depois receber telefonemas dizendo que sentiram minha falta. Eu ás vezes desejo que algo devastador aconteça para aí sim ter razão pra sofrer. Eu queria ter a mínima responsabilidade de ter um canto meu e que nesse canto eu não dependesse de ninguém. O que mais escuto são claro, vozes de gente, mas dizendo sempre que a gente precisa do próximo. Eu sei, sei que preciso, sei que é necessário ter amigos e sentir amor. Amor eu sinto, eu acho, mas é algo que ainda está amadurecendo dentro de mim mas eu me sinto feliz em senti-lo. Sinto feliz por ouvir que sou a esperança de alguém mesmo sabendo que não me resta tanta. Vou encontrá-lo e esqueço por alguns segundos que tenho um caco de vidro que não solta do meu pé, e a dor cessa, e ele me abraça, e esbarra o nariz nos meus e diz que me ama, ficamos nus por um tempo, relembrando atentados á nós e eu me calo, não por ele, não por ninguém, nem por mim. Mas não sou prepotente ao ponto de achar digno ocupar o tempo de alguém aclamando motivos vazios e sóbrios que me fazem sofrer.
Por mais que seja difícil e pareça complicado pra mim, vou sonhar com alguém consertando minhas asas caídas, que estão me impedindo de levantar voo; acho que algum gancho está me puxando pra dentro, você vê? Me ajude á tirá-lo de perto de mim, me ajude a me libertar, todos somos anjos, inclusive eu, por favor por favor por favor, estão me impedindo de voar.
Mas sabe, quando a gente menos espera, quando a tempestade do dia já passou, me resta uma enorme paz. Esperança renovada. Isso que eu sinto agora. Não preciso de ninguém para tirar este gancho de mim, eu mesmo o tiro. E por hora, consegui. Só não posso aterrissar de novo - e sabemos que isso vai acontecer - e como o que eu mesmo me cabi, vou me soltar sozinho, de novo e de novo. Preciso me sentir mantido. Os problemas fora da cabeça, e dando a mão pra sorte. Bem abstrata, mas dou a mão pra ela. Vocês estão vendo como somos tão amigos? Ela também é sua amiga, inclusive. Está te dando um Oi e batendo na sua porta, qualquer dia desses.
Mas para me libertar, não vejo soluções, preciso ferir pessoas. Preciso gritar, chorar, me perder, e me achar de novo. Viajar, ser menos preguiçoso, ver gosto nas coisas de novo. Me diga, o que adianta viver, e não achar sentido em nada? Lamento ver que cheguei num ponto que nem eu mesmo via o caminho. Ando frio; "chorar, choro ás vezes, e é tão frequente". Sinto vontade de trabalhar, estudar, e me dedicar, sair pelo portão da frente de casa e não preocupar em estampar a cara aos outros. Sem dinamismo, sem mistérios, sem caras fechadas e mau-humor. Tento, ligo pra uma amiga da escola que também sente necessidade de se achar, mas sei que não é tão desesperadora quanto á minha, e começo a dizer: "Oi, tudo bem? Olha, eu to te ligando pra dizer que nesse momento eu to chorando por uma coisa que eu não sei, mas essa coisa não tem remédio e ela lateja dentro de mim como um caco de vidro no pé. E dói, dói tanto! Você pode me ajudar? Quero estar feliz sem estar triste, e estar triste estando feliz. Pode ocorrer? Há algum zero oitocentos que me socorra? Igreja, talvez? O que você acha? Não tenho tanta fé. Não posso me colocar dentro de alguma religião que meus olhos latejam. Meu coração grita, minhas mãos querem briga. Meus pés procuram caminhos mas meus olhos não os deixam sair de onde estão. A terra gira gira gira o tempo todo e eu me quero de novo. Mas... Quando foi que eu me tive?". Não, é óbvio que não saiu apenas um "Depois eu te ligo" e mais nada. Não funciona. Não comigo. Não agora. Mas quando? Quando é que tudo acaba ou quando é que eu vou aprender? Talvez nunca. Não com esta forma de viver.
Talvez eu precise de um impulso. Mas não adianta, nada: Mamãe vive me obrigando a comer o que o nutricionista diz, e eu não concordo. Não estou doente nem estou perto de ficar. Eu não consigo olhar pra papai sem ver quinze anos nas costas e de pura incapacidade de perdoar e afundar mágoas. Não consigo. A família almoça, as tias e a avó chegam e todo mundo come. Aparentemente felizes, e vejo que não sabem fingir direito. Não há ninguém feliz e nenhuma família feliz. Muito pelo contrário. Pelo menos comigo, não, não está tudo bem. Não tenho silêncio, não tenho nada além de uma migalha de esperança que me resta, e ela oscila como jamais oscilava. Penso que não sou forte o bastante pra conviver, e que sou dramático demais pra ir em frente, mas não sou e não é assim. Pra mim, esse vazio é excessivo é extenso, e por eu não conseguir explicá-lo, ele se torna mais vazio e mais louco do que parece.
Eu queria sair por aquela porta e horas depois receber telefonemas dizendo que sentiram minha falta. Eu ás vezes desejo que algo devastador aconteça para aí sim ter razão pra sofrer. Eu queria ter a mínima responsabilidade de ter um canto meu e que nesse canto eu não dependesse de ninguém. O que mais escuto são claro, vozes de gente, mas dizendo sempre que a gente precisa do próximo. Eu sei, sei que preciso, sei que é necessário ter amigos e sentir amor. Amor eu sinto, eu acho, mas é algo que ainda está amadurecendo dentro de mim mas eu me sinto feliz em senti-lo. Sinto feliz por ouvir que sou a esperança de alguém mesmo sabendo que não me resta tanta. Vou encontrá-lo e esqueço por alguns segundos que tenho um caco de vidro que não solta do meu pé, e a dor cessa, e ele me abraça, e esbarra o nariz nos meus e diz que me ama, ficamos nus por um tempo, relembrando atentados á nós e eu me calo, não por ele, não por ninguém, nem por mim. Mas não sou prepotente ao ponto de achar digno ocupar o tempo de alguém aclamando motivos vazios e sóbrios que me fazem sofrer.
Por mais que seja difícil e pareça complicado pra mim, vou sonhar com alguém consertando minhas asas caídas, que estão me impedindo de levantar voo; acho que algum gancho está me puxando pra dentro, você vê? Me ajude á tirá-lo de perto de mim, me ajude a me libertar, todos somos anjos, inclusive eu, por favor por favor por favor, estão me impedindo de voar.
Mas sabe, quando a gente menos espera, quando a tempestade do dia já passou, me resta uma enorme paz. Esperança renovada. Isso que eu sinto agora. Não preciso de ninguém para tirar este gancho de mim, eu mesmo o tiro. E por hora, consegui. Só não posso aterrissar de novo - e sabemos que isso vai acontecer - e como o que eu mesmo me cabi, vou me soltar sozinho, de novo e de novo. Preciso me sentir mantido. Os problemas fora da cabeça, e dando a mão pra sorte. Bem abstrata, mas dou a mão pra ela. Vocês estão vendo como somos tão amigos? Ela também é sua amiga, inclusive. Está te dando um Oi e batendo na sua porta, qualquer dia desses.
Tenho a impressão de que deixei todos os que andavam "do meu lado" partirem. Partirem sem o menor esforço. E a expressão "do meu lado" não se encaixa em absolutamente nenhum de meus partidos amigos já feitos, penso que deixei boas lembranças, alguns espinhos, mas boas lembranças. Não foi só companhia, foi ciúme, choros, apertos de mãos e abraços, laços desfeitos e consertados. Falta de imaginação, talvez. Tenho tido pesadelos terríveis, dolorosos - e de doloroso já me basta viver. É difícil, eu digo que é difícil sem nenhuma compreenssão de alguém, eu sei, mas é tão difícil quando não se vê mais prazer em nada.
Espero sinceramente que você se encontre de novo. É complicado viver em um mundo perdido, meu caro. Empurre imediatamente esse seu peito pra fora, e se sinta forte. Não há luz vindo da janela, agora, mas mais tarde terá. Não há nada além de café na madrugada, mas pode haver uma plantação inteira no teu terreno, caso queira. Levanta, levanta logo, se levanta pelo amor de Deus! Você é forte, é lindo, é amado, por mim, e eu não quero sustentar dois. Largo minha dor pelos cantos quando estou do seu lado, assim, fácil. É só estar do seu lado que ela oscila. Acende e apaga. E quando ela apaga eu presto tanta atenção em você que me vem tanta confidência própria de ter só nós dois ali juntos pensando no amanhã ardiloso e ardente, e tudo foge, o poço já não existe mais. Só a plantação de café e a luz que vem das janelas. Pegue os remos e reme de novo, não se sinta fraco, forte todos somos, viver é a prova disto.
Espero sinceramente que você se encontre de novo. É complicado viver em um mundo perdido, meu caro. Empurre imediatamente esse seu peito pra fora, e se sinta forte. Não há luz vindo da janela, agora, mas mais tarde terá. Não há nada além de café na madrugada, mas pode haver uma plantação inteira no teu terreno, caso queira. Levanta, levanta logo, se levanta pelo amor de Deus! Você é forte, é lindo, é amado, por mim, e eu não quero sustentar dois. Largo minha dor pelos cantos quando estou do seu lado, assim, fácil. É só estar do seu lado que ela oscila. Acende e apaga. E quando ela apaga eu presto tanta atenção em você que me vem tanta confidência própria de ter só nós dois ali juntos pensando no amanhã ardiloso e ardente, e tudo foge, o poço já não existe mais. Só a plantação de café e a luz que vem das janelas. Pegue os remos e reme de novo, não se sinta fraco, forte todos somos, viver é a prova disto.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
"Eu tenho um milhão de motivos pra fugir de pensar em você, mas em todos esses lugares você vai comigo. Você segura na minha mão na hora de atravessar a rua, você me olha triste quando eu olho para o celular pela milésima vez, você sente orgulho de mim quando eu solto uma gargalhada e você vira o rosto se algum homem vem falar comigo. Você prefere não ver, mas eu vejo você o tempo todo."
"Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais."
- Não tenha medo – disse. – Eu te protegerei.
- Não tenho medo. E não preciso de tua proteção.
- O que há em ti que não compreendo?
- O que há em mim que não compreendes é o mesmo que há em ti, e tampouco compreendes. Sorriu. Os dentes muito claros. Os olhos azuis. Punhalada de luz.
- Eles são capazes de tudo.
- Eu sei. Também sou capaz de tudo.
- Preciso descer. Não quero que morras.
- Também não quero que morras. Mas morreremos.
- Não tenho medo. E não preciso de tua proteção.
- O que há em ti que não compreendo?
- O que há em mim que não compreendes é o mesmo que há em ti, e tampouco compreendes. Sorriu. Os dentes muito claros. Os olhos azuis. Punhalada de luz.
- Eles são capazes de tudo.
- Eu sei. Também sou capaz de tudo.
- Preciso descer. Não quero que morras.
- Também não quero que morras. Mas morreremos.
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