sábado, 10 de abril de 2010

"É que um mundo todo vivo tem a força de um Inferno." Clarice Lispector


Tenho algo a dizer e não vai ser fácil. Fora assim: começara de súbito e o fim se tornara imprevisível,assim como não se tem hora para morrer.
O que há dentro de mim aos poucos adquirira a sombra vaga,mas delimitada por duas pequenas diferenças: o que eu vejo por dentro e que é visto por fora – sei que não posso,aliás,não devo nem tentar julgar o que é julgado- então, não posso julgar-me?
Era ignorante pensar que se aprende a ser feliz com o fracasso? E ser feliz é a penumbra que é esquecida por causa da escuridão da noite.

Tenho algo a dizer e dessa vez é mais complicado: o trem que eu esperara há tanto tempo partira. Ele se fora porque de tanto esperar,acabei dormindo- e quando se dorme assim, tão profundo e eterno – as coisas começam a acontecer.
E de tanto esperar ele já aparecera.

Tenho algo a dizer e dessa vez não é uma promessa e não sei classificar a importância dessa coisa: tenho que ir embora. Sim, no começo é sempre difícil. Você passa a pensar se a falta vai ser tanta e tão grande, ao ponto de ser comparada com a solidão, mas talvez a solidão seja feita do que é incompleto- somos incompletos desde o nascimento e morrer é estar sozinho também.

Tenho algo a dizer: não sei mais o que falar. Só sei me despedir. O que será essa sensação incômoda de não saber mais como agir e pensar? Não posso ir além de mim mesma,mas posso chorar. Posso beber e fugir e sentir tudo rodar.
Mas olha, não roda.
Prazer, eu não bebo.