sábado, 24 de abril de 2010

"Não olhava pra ninguém, ninguém olhava pra ela"


Porque dá-las, então? Lindas e dá-las? Pois quando você descobre uma coisa boa, então você vai e dá? Pois se eram suas, insinuava-se ela persuasiva sem encontrar outro argumento além do mesmo que, repetido, lhe pacrecia cada vez mais conveniente e simples. Não iam durar muito por que então dá-las enquanto estavam vivas? O prazer de tê-las não significava grande risco. Enganou-se ela - pois, quisesse ou não quisesse, em breve seria forçada a se privar delas, e nunca mais então pensaria nelas, pois elas teriam morrido - elas não iam durar muito, porque então dá-las? O fato de não durarem muito parecia tirar-lhe a culpa de ficar com elas, numa obscura lógica de mulher que peca.

E também porque uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. E, sobretudo, nunca para se "ser". Sobretudo nunca se deveria ser a coisa bonita. A uma coisa bonita se faltava o gesto de dar. Nunca se devia ficar com uma coisa bonita, assim como que guardada dentro do silêncio perfeito do coração.

Mas, sem saber por quê, estava um pouco constrangida, um pouco pertubada. Oh, Nada demais, apenas acontecia que a beleza extrema incomodava.

Laços de Família