domingo, 29 de agosto de 2010


pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar.

(Caio F. Abreu)

sábado, 28 de agosto de 2010


Perdi alguma coisa que me era essencial, e não me é mais. Não me é necessária, assim como se tivesse perdido uma terceira perna, que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Sei que apenas com duas pernas é que posso caminhar, mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta. Era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, sem que precisasse me procurar.

Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Um dos meus maiores medos - sempre tenho medo, vários; inacabáveis- é o de te perder. Não posso comparar nossa relação com a de ninguém. E não consigo. Não consigo achar falhas qe consigam envelhecer ou rotinar demais eu e você.
Do seu lado tudo é melhor. A dor já passou. A noite também. Agora é manhã. O tempo já passou e a gente se beijou na sexta e se abraçou no sábado e conversou e se amou no domingo. Nos repômos para a próxima semana. Mas é que... eu acho as segundas-feiras tão mais lindas porque me dá nostalgia de você. As quartas são esperadas porque programamos a sexta e na quinta eu já fico metade feliz pra receber seu sorriso canto-da-boca e seu olhar que me deixa inquietante. Aos domingos á noite, me bate uma saudade irracional de você. Aos sábados, enquanto minha insônia apara meus olhos eu imagino... Tanta coisa fértil. Tanta coisa linda. Tanto momento nosso. Que a gente, eu espero, viver junto.
E eu imagino você conversando me segurando me apalpando me beijando me acariciando me escrevendo me bolinando me cantando me amando e me olhando; e meu amor e carinho e afago aumentam e explodem tanto dentro de mim por você que... pulam dos olhos e do tato e do olfato e do paladar e vão direto pro coração. Imaginava, agora, nada. Só via e imaginava sempre, você. Desde aquele dia. Neorótico. Assim. Bem neorótico, á ponto de assustar.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Só precisa de algo novo, de novo. E se fosse preciso, procuraria o novo, outra vez. E quantas milhares de outras vezes fossem necessárias. Chega uma hora que tudo cansa, tudo faz você lembrar aquilo que tentou esquecer por meses, mas inevitavelmente, ainda pertencia a sua vida. Lá vai você, mudar o rumo do seu destino, recriar as órbitas e procurar algo inusitado - novo.
Uma hora você cansa dos mesmos abraços, das mesmas companhias, talvez não tão facilmente quanto você enjoa de olhar para a mesma colcha xadrez sobre a cama, ou a mesma parede repleta de fotografias. Mas uma hora, cansa, e não há motivo algum para explicar. A diferença é que pessoas não podem ser escondidas atrás de discos novos, de um novo papel de parede, pessoas são simplesmente substituídas - por versões melhores, ou piores do que as antigas. Chega uma hora que você cansa de si próprio, de fitar a mesma face pálida no espelho, o mesmo cabelo em tons ruivos desbotados. Nada parece bom o suficiente, lá vai você, correr para o salão mais próximo e implorar por um milagre, um corte que você enjoará
em alguns meses, até mesmo horas.
Infelizmente, chega a hora mais difícil, aquela quando você se cansa de suas próprias angústias, de seus antigos vazios. Cansou de sofrer por pessoas que nunca te deram valor, cansou de perder amores por não saber como expressá-los, cansou de viver as sombras de mentiras alheias. Cansou. Por mais difícil que pareça, quando sua vida começa lhe dar sono emocional, e nada mais lhe agrada, é hora de recomeçar. Recomeçar por completo, deixando todas suas lembranças para trás, seus antigos ideais, e até mesmo - pessoas. Aquelas que você jurou nunca desamparar.

E ali está você caro amigo, está vendo? Sozinho, com algumas fotos na mão, e um pequeno caderno de couro debaixo do braço. Mas espere, ali na próxima esquina sua vida vai recomeçar. Todo aquele seu brilho costumeiro, vai voltar. Olha só, acima do céu, existe alguém que você desconhece. E aqui do seu lado, existe a sua costumeira timidez. Porém ela, te garanto, é legal.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

"Não digas onde acaba o dia. Onde começa a noite. Não fales palavras vãs. As palavras do mundo. Não digas onde começa a Terra, Onde termina o céu Não digas até onde és tu. Não digas desde onde és Deus. Não fales palavras vãs. Desfaze-te da vaidade triste de falar. Pensa, completamente silencioso, Até a glória de ficar silencioso, Sem pensar."

terça-feira, 24 de agosto de 2010


"Mas tantas memórias. A gente tem tantas memórias. Eu fico pensando se o mais difícil no tempo que passa não será exatamente isso. O acúmulo de memórias, a montanha de lembranças que você vai juntando por dentro. De repente o presente, qualquer coisa presente. Uma rua, por exemplo. Há pouco, quando você passou perto de Pinheiros eu olhei e pensei: eu já morei ali com o Beto. E a rua não é mais a mesma, demoliram o edifício. As ruas vão mudando, os edifícios vão sendo destruídos. Mas continuam inteiros dentro de você. Chega um tempo, eu acho, que você vai olhar em volta sem conseguir reconhecer nada."
"Segue teu destino. Rega tuas plantas, ama tuas rosas, o resto é sombra de árvores alheias."

Fernando Pessoa

domingo, 22 de agosto de 2010


Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.

(Rubem Alves)

sábado, 21 de agosto de 2010


Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.
Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Depois é um tempo bastante duvidoso.
Depois é distante daqui...

Depois é sei lá.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Desculpa se hora eu fui feminista demais e outrora fui arrogante demais e nem olhei pra você. Desculpa por ser tão sem-graça e tão insegura. Desculpa por querer o mundo todo de uma vez só e ver que, não se pode ter o mundo todo. Desculpa por ser impaciente e apressada; é que eu preciso imaginar primeiro, depois tocar. Imaginar, que eu imagine errado, que seja fértil demais, ou que seja colorido ou preto ou apaco ou atée sozinho demais. Desculpa por ser repetitiva e acabar não sendo aleatória. Entenda, não sei me entregar á algo que eu não conheça. Não sei. Desculpa. Foi mal. Sorry. Sou culpada. Eu sei que sou. Mas, relaxa. A vida engana, né?! - mas engana tão bem que todos nós somos tão enganados e nos enganamos tanto que continuamos enganando o outro. Eu só queria, eu SÓ queria, que nada fosse assim. Tão enganável. Tão líquido. Tão areia. Tão "não dá e não passa"; me pego ás vezes tão cansada inconformada dilacerada mal-humorada chateada e apática com essas coisas que me aparecem e que parece que eu não as sei; não as compreendo. Mas compreendo tanto que me pego em meio á puro asco; de mim, de você. Mas eu sei. Eu compreendo. Parece que eu não sei mas eu juro á mim mesma que sei e repito que sei. Que amei. Que vou amar. Mas desculpa se eu escolhi você. É que eu te olho e te vejo e observo num vazio tão grande nos olhos que me vem medo de cair no teu abismo. Tão misterioso e claro.
Então você me salva e me abre um sorriso canto-a-boca e me aquieta e me acaricia dizendo que tá. Que vai ficar. Que vai ficar tudo bem.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


Que importa se sonhei, se vi, se foi hoje ou amanhã? Se nem sequer vi, só imaginei, que importa?

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara. Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram.




eu tenho pressa, quero gritar que tenho muita pressa

domingo, 15 de agosto de 2010

"Há muitas razões para duvidar e uma só para crer."


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


"O caminho é este,
tem pedra, tem sol,
tem bandido, mocinho,
tem você amando, tem você sozinho,
é só escolher, ou vai, ou fica. Fui."

Martha Medeiros

Não me pergunte se eu ainda lhe amo. O cansaço se apoderou de uma parte de mim, que pertencia a você. Uma parte que já não sobrevivia com sua indiferença desfarçada, ao seu olhar ao comum.
Não me pergunte se sinto saudades ou se me esqueci de todo o pouco que havia sobrado de nós doi, porque não sinto e muito menos esqueci. Seu lugar em mim foi preenchido por uma lacuna totalmente exacerbada de células mortas que não se permitem ser vistas ao olho nu.
Agora, pergunte a si mesmo. O que você sente? Não está na hora de mudar? Já que diz que lhe da o maior valor possível, e transmite isso a todos, por que não transformar a mentira em verdade? Já ouvi dizerem por aí que a mentira dita por mil vezes acaba se tornando verdade.

"O pior de fugir de si mesmo, é que cedo ou tarde você se encontra. E quando se encontra, percebe que aquilo que você deveria estar correndo atrás acabou de ser encontrado. Por outro alguém."


Escrito em: Janeiro

"Lógica? Que se foda a lógica."

Tati Bernardi

sábado, 14 de agosto de 2010

Não tenho muito o que dizer sobre ela.
As únicas palavras que conseguem sair do papel, é que, ela, uma moça cansada, incompreensiva e masoquista. Vê as poucas pessoas como um enxame de abelhas desesperadas (a toa) porque alguém inconsequente e vulnerável ameaçou as tocar.
Depois da ameaça, só vieram as picadas. Os ferimentos. A raiva. A cequeira. E algo ardente. Muito ardente. Porém, um ardo que, ardia muito mais em quem picava.
A moça via coisas, que só essas coisas, ela compreenderia.Sua mente, se transformara em uma abelha, que tinha quebrado sua pequena asa e por dentro sentia-se tão impotente quanto um passarinho sem asa.
Enquanto reposição alguma chegava, sua rotina era a mesma. E isso dóia. Via todos os dias várias abelhas rainhas (ou que fingiam ser), e pensava que, seria bom, por um lado, ser apenas uma abelha, de lado; sem saber pra onde ir e como se repôr. Ver todas aquelas abelhas se juntando e resultando em vários enxames violentos, tão violentos... Ás vezes feria os olhos. Ou o coração de quem via. Só o dela. Os outros, eram os outros. Sua compreensão e razão ia até certo ponto. Uma hora ou outra hora passava dali. Mas sempre voltava.
Estaca zero.
Abelhas tentando se salvar e sendo tão violentas. - Que tipo de salvação seria essa?
Porém, sabia ela mesma que, possuia a obrigação de continuar sua rotina. Apesar de sua falta de escolha e liberdade. Possuia a obrigação de vestir-se todos os dias, acender a luz, repôr-se, e pensar no que ela terá de ser, hoje.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


Ás vezes você é tão bobo e me faz sentir tão boba que eu tenho pena de como o mundo bobo era antes da gente se conhecer.

Tati
Você não grita nem acorda. Não há terror, mesmo sendo aterrorizante: é assim que é. E pior ainda, não se trata de um sonho. Começa a amanhecer. Ou a anoitecer. Ninguém sabe quando passa o trem. Nem para onde vai. E não se leva nada. Isso é tudo que sabemos.

Um amigo me chamou,
pra cuidar da dor dele.

Guardei a minha no bolso,

e fui.


Pálpebras de Neblina - Caio F.

domingo, 8 de agosto de 2010

EU — É possível um rio secar completamente?
ELA — Claro que é.
EU — Mas será que ele não enche depois? Nunca mais?
ELA — Alguns sim, outros não.
EU — Mas nunca mais?
ELA — Sei lá, acho que não.
EU — Você tem certeza?
ELA — Certeza eu não tenho. Só estou dizendo que acho. Afinal não sou nenhuma especialista em matéria de rios, secos ou não.
EU — Sabe?
ELA — O quê?
EU — Eu tinha esperança que o rio voltasse a encher um dia.

sábado, 7 de agosto de 2010


Apagar-me
diluir-me

desmanchar-me

até que depois
de mim

de nós
de tudo

não reste mais
que o charme.


Paulo Leminski

sexta-feira, 6 de agosto de 2010


"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."

C.F.A